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Não foi a toa que nasci no dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora da Aparecida, pois, mesmo sem ser devota dela, tive várias oportunidades de confirmar a sua proteção em minha vida.


As pessoas acham que sou espírita atuante, hoje, por ocasião do meu aniversário decidi falar um pouco de mim e não posso deixar de contar que nasci em uma família extremamente católica e que minha mãe me obrigava a atravessar a cidade a pé, ainda com 10 anos incompletos, para ir sozinha à missa todas as manhãs de domingo (e como sinto saudades daquelas manhãs!).


Quando voltava para casa o almoço de domingo me esperava (macarronada, maionese e frango, sempre o mesmo adorável cardápio), não sem antes explicar o sermão do padre para ela.


Minha mãe, muito rígida (por vezes, violenta), despertou em mim coisas boas e foi ela que me ensinou a cuidar de mim desde muito nova, a ter responsabilidade, a falar sempre a verdade, a estudar para ser uma das melhores (me passava cópia da bíblia, caligrafia, números romanos e muitos ditados movidos a ?tabefes? quando errava).

Meu pai era meu protetor, protegia das surras dela quando podia, me dava dinheiro escondido para comprar dadinhos no colégio e nos levava para passear sem ter dia ou hora. As noites eram lindas e estreladas do banco de traz carro que eu dividia com minha irmã e voltada contando as estrelas do céu e fazendo planos para um futuro que parecia ?anos luz? daquele tempo. Íamos bastante para os rios das redondezas e a boia de pneu de carro ou voltar na carroceria de algum carro da oficina (ele era mecânico) só perdia para a diversão de passear de moto com ele nos arredores da linda Rainha das Colinas.


O catolicismo da infância é muito presente em minha vida, as orações cotidianas e a catequese reforçada pela época vivida jamais me deixaram saber que existia o espiritismo. Mesmo assim, aos meus 11 anos tive uma experiência extraordinária que me fez perceber desde então que existe algo além de nós, uma força invisível que as vezes se deixa perceber, embora eu saiba hoje, que não é comum e nem permitido pelas leis divinas esta comunicação entre os dois mundos.


Vida seguiu e o tempo que parecia tão distante finalmente chegou. Meu pai já não está entre nós e minha mãe não preservou o rigor da postura na educação dos meus irmãos. Aquele céu estralado ainda me encanta, as vezes fico olhando para ele tentando entender a relação com este mundo invisível que sei existir, mas só consigo enxergar a onipotência de Deus sobre todas as coisas e sobre qualquer religião.


Muitas outras experiências espirituais foram vivenciadas por mim ao longo da vida, nada em vão, creio que as coisas que aprendi com a espiritualidade (a tal bagagem espiritual), as inspirações e as revelações me possibilitaram chegar até aqui com algum peso na bagagem espiritual, o aprendizado que trago parece me acompanhar desde sempre, mesmo quando eu, criança, sentava para apreciar os vales e colinas da minha terra natal e falava sozinha.


Muitas provas eu tive dessa força maior que a cada vez que começo escrever me inspira e prepara o meu melhor. Tive a oportunidade de ser médium psicográfica por algum tempo, depois abandonei o encargo a altas penas que pago até hoje, uma delas é não conseguir mais conversar em sonhos com os amigos da espiritualidade que sempre me acompanharam, intuíram e revelaram coisas do passado, ainda que eu sinta a presença querida e protetora.


Este ano é para mim o mais especial de todos, inesquecível, pois será o meu primeiro aniversário que passo como escritora (há dois meses lancei meu primeiro romance), o primeiro em que posso afirmar com certeza que meu destino se cumpriu (não que a jornada tenha se encerrado, mas meu legado começa a se formar agora com este sonho infantil realizado, quando de mim posso falar sem medo ou pudor, pois todo escritor pode falar o que lhe veem a alma e ainda pode ser quem ele quiser.


Eu brincava de falar sozinha até depois de casada, hoje entendo, é que dentro de mim moram muitos personagens que se misturam comigo porque todo escritor tem um pouco de si nos seus personagens...


Até onde consigo ir? Não sei. Até onde meu destino me levar, até o exato ponto onde então novamente me misturarei à essência maior do universo que não separa dois mundos sem razão de ser, contrariamente, mantém o invisível aos nossos olhos e visível muitas vezes aos sentidos, porque não é dado ao homem conhecer todos os mistérios que separam céu e terra.


Gratidão a todos que estão se propondo a vir comigo nesta jornada. Que Deus me permita cruzar os caminhos de tantas pessoas quanto minhas palavras puderem alcançar e somente então perceberei onde realmente preciso chegar e as razões dessa busca incessante por algo que ainda não encontrei, embora tenha chegado até aqui. O que quer que seja, definitivamente não é deste mundo.


Qual a única bagagem que levarei comigo? A bagagem espiritual, o que tiver conseguido juntar ao longo do caminho das coisas que vi e aprendi, a única herança verdadeira: BAGAGEM ESPIRITUAL, essa que não pesa, contrariamente, só alivia o fardo.