Desde muito pequena eu já dizia que queria ser ?advogada e escritora?, nessa ordem e com igual amor pelas duas coisas.
O tempo foi passando e eu, criada só pela minha mãe e com muitas dificuldades financeiras, via meus planos cada vez mais distantes, pois na cidade onde morava, sequer faculdade tinha e ainda não fazia ideia de como ser aprovada no vestibular de uma faculdade pública (já que não tinha dinheiro para pagar o curso).
O tempo passou e como tudo na vida acontece na hora que tem que ser e como está programado no destino, um dia me formei advogada e no primeiro exame da OAB, fui aprovada (um dos momentos mais especiais da minha vida!) e como eu já trabalhava no Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul segui, com orgulho e amor, a área do direito público.
Hoje atuo com licitações, fazendo, dentre outras coisas, o que mais gosto: ensinar às pessoas a interpretação da legislação e a gostarem do que fazem por aprenderem a fazer (penso muito mais nesse segundo objetivo).
Mas nem sempre foi assim, eu penei muito para caminhar até aqui e comecei a escrever sobre licitações para depois chegar à PROMESSA.
Ainda hoje enfrento dificuldades e tento superar o meu excesso de formalismo (coisa de advogado).
Na minha rede de escritora, às vezes minha equipe me lembra: você não está falando na sua rede técnica, não está falando sobre licitações. E então eu respiro e começo tudo de novo...
Desde a minha infância eu também leio muito, e quando me formei advogada passei a ler sobre leis, então, quero que meus leitores saibam que a advogada que mora em mim é quase tão forte como a desvairada escritora que quer falar sobre coisas banais, depois do expediente (e hoje até durante o expediente eu muito falo sobre flores).
Quero contar que em muitas ocasiões eu torno o texto pesado e a letra fria da lei em uma crônica da vida, ou seja, me pego fazendo uma petição como se escrevesse um livro.
Eu, literalmente entro na história do meu cliente e a transmito sob a ótica de uma escritora.
Então, já não sei se sou mais a escritora ou a advogada que queria ser quando menina.
Se sou a escritora que inventava personagens e brincava de falar sozinha, poetizava todas as situações que vivia ou a advogada que escolheu ensinar as pessoas a gostarem do que fazem (aprendendo a fazer).
Mas, nesta CRÔNICA DA VIDA quero compartilhar com as pessoas que continuo dividida entre as duas coisas, formalidade ou banalidade, e permaneço sem saber o que é mais importante nas nossas vidas, porque creio que a Simone técnica não seria ninguém sem a escritora que mora em mim e que passou a vida vendo poesia até nas paredes frias e nos tempos difíceis.
O que importa hoje para mim, apesar do tanto tempo que as minhas duas redes me tomam, é seguir meu caminho vendo beleza nos horizontes, escrevendo coisas jurídicas para pessoas jurídicas e coisas banais para um público que me fascina: pessoas imperfeitas que querem aprender com a vida.
Peço todos os dias a Deus que a minha escrita alcance quem dela precisar, seja um servidor desejando aprender sobre licitações (e eu vou ensinar a partir da prática cotidiana sem nenhum interesse no tecnicismo exagerado), seja alguém ávido por um pouco de conteúdo banal para aliviar a alma.
Gosto de falar sobre o que somos descalços e sem uniformes, sobre o quão perdemos tempo com tantas coisas sem importância alguma e o quanto não damos tempo a tantas outras coisas realmente importantes.
Gosto de pensar que como seres imperfeitos vamos aprendendo com a vida e ainda gosto de brincar de faz de conta, de falar sozinha, e de acreditar que em algum lugar alguém vai me ouvir.
Mas, por outro lado, também gosto de ajudar as pessoas a entenderem um pouco mais sobre licitações (ou porque precisam ou porque gostam do tema).
E o meu grande desafio é fazer com que estas pessoas (técnicas) despertem o seu lado humano, para enxergar as outras pessoas que com elas dividem o cansativo cotidiano das prefeituras e especialmente o que elas podem melhorar naquilo que fazem.
Confesso que não sei o que me preenche mais a alma e o coração... Continuo na incessante busca desta resposta.
Parabéns a todos os advogados que escrevem com a alma e com o coração e buscam a justiça acima de outros propósitos.