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Ana me autorizou a contar a história dela no meu quadro Crônicas da Vida e eu me senti lisonjeada, não porque é mais uma história e me encanto por histórias (é o papel do escritor), mas, sobretudo porque não estava preparada para me sentir tão pequena e este desafio está me ajudando a me melhorar. Depois da sua história de vida Ana, eu passei a achar a minha, que já me pareceu em alguns momentos, tão difícil, simplesmente leve.

 

Esta é mais uma Crônica da Vida:

 

Ana nasceu doentinha, não foi batizada na igreja porque na época os padrinhos preferiram fazer a cerimônia em casa (mas ela, mesmo sem saber o motivo, se sentia muito forte e protegida por Deus, ainda que sua mãe vivesse profetizando que a filha não teria sorte por ser pagã).

 

Filha do meio de sete irmãos viu os irmãos mais velhos saírem de casa ansiosos por viverem suas vidas, e depois os mais novos, cada um trazendo um filho de volta para os pais criarem e advinha quem acabou criando os sobrinhos? Isso mesmo, Ana que nunca saiu de casa porque queria ser diferente dos irmãos.

 

A moça que queria ser diferente cuidou dos sobrinhos e um dia, após o seu único namoro da vida acabar por uma gravidez inesperada, Ana teve uma filha que nasceu especial, e ela que queria ser diferente, se viu tendo cuidando agora da sua própria filha, ajudada pelo pai, que sempre se importou com seu desejo de ser diferente, e que lhe dizia: Querida filha você é diferente!

 

Um dia o pai, seu protetor, depois de sofrer por uma doença fatal (e Ana cuidar), faleceu. Foi quando a moça que queria ser diferente pensou em sair de casa, como os outros irmãos, para cuidar da sua vida (e da filha especial), mas havia prometido ao pai que cuidaria também da mãe, até o final.

 

Nesta época a mãe de Ana estava doente e viveu sob os seus cuidados cerca de 03 anos.

 

Ana conta que nunca se deu bem com a mãe, pessoa de gênio difícil e que passou a vida resmungando maledicências contra a ela, principalmente por não entender porque a insignificante menina era a ?preferida? do pai, porque o marido a protegia tanto!

 

Foram tantos os momentos em que Ana pensou em desistir: Cada chegada de um sobrinho novo que trazia-lhe obrigações que não eram suas; cada partida de uma irmã que simplesmente ia sem qualquer consideração com as dificuldades financeiras da família pobre.

 

Essa nordestina de sorriso largo nunca se deixou abater, zombava da própria sorte e esperava o tempo de Deus para seguir seu destino, destino esse que não sabia muito bem como se resolveria porque não se casara para poder cuidar de todos ao seu entorno, mas não questionava o destino.

 

Quando todos se foram, se viu sozinha no mundo e tinha que ser forte para cuidar da sua filha.

 

Ana relata que várias vezes sentiu a presença do pai e parecia protegida, conta que quando sente vontade de chorar simplesmente chora, conversa com Deus e nunca, absolutamente nunca reclama.

 

Hoje mora numa singela casa que comprou com a sua parte da pequena herança do pai, uma casa que precisa de reforma, mas para ela é o paraíso, e ela arruma com tanto amor que a sua simplicidade reflete a verdadeira felicidade, a felicidade da moça de sorriso largo que queria ser diferente.

 

A justiça anda lenta e o pai de sua filha, um funcionário público federal aposentado, de sua farta casa rodeada de filhos saudáveis e por caridade, às vezes lhe manda entregar algumas fraldas para a filha especial que ele nunca reconheceu.

 

Não reconheceu aqui, mas Ana crê na justiça divina e sabe que ela tarda, mas chega, o processo está em demanda e uma hora a justiça dos homens dará a sua sentença e Ana crê que não será tarde.

 

Essa mulher guerreira que não se queixa da sorte e que transborda felicidade no seu sorriso fácil, é uma lição de vida, especialmente pela sua postura que, obstinada, não chora fácil, ao contrário sempre sorri.

 

Obrigada Ana por esta crônica da vida, sua história me mostra o quanto eu sou pequena diante da sua grandeza de espírito, e acredite, seu pai tinha toda razão, você é diferente, você sim é uma pessoa muito especial, de sorriso largo e de uma felicidade que não se explica, mas se sente.